Por Caroline Ciaramicoli*
“Já acabeeeeei, vem me limpar!”
Aos gritos, Ana Luiza, 4 anos, me avisa que já “acabou”. Ela foi ao sanitário da escola, onde estamos agora (ela como aluna e eu como professora). Ao gritar que “já acabou” ela espera que eu vá limpá-la. Será mesmo?
Situações como essa fazem parte do trabalho do professor de Educação Infantil. Mas, afinal, quem deve limpar: o professor ou a criança? Depende. E como se faz isso? Depende. Qual a melhor idade para a criança começar a “se responsabilizar pelas consequências de seus atos” no banheiro, por sua higiene pessoal? Depende.
Tudo depende de cada criança, de sua idade, desenvolvimento potencial e real, de seu histórico e de como aprendeu esses cuidados no ambiente familiar. Então, por onde começar? Além da observação e escuta atentas, acredito que o ideal é estabelecer um diálogo honesto para ensinar a criança como fazer a limpeza das suas necessidades básicas.
Como estabelecer diálogo para ensinar uma criança?
Pensando nesse tema, optei por propor a minha turma uma atividade que atraísse a curiosidade dos pequenos, ao mesmo tempo que lhes ensinasse o respeito e amor próprio, sentimentos necessários para a formação da autoestima de qualquer criança.
Minha turma é composta por crianças ativas e alegres de 4 anos que são cheias de atitudes e curiosidades, mas com as singularidades inerentes a cada indivíduo. Tendo isso em mente, apresentei em roda uma boneca e um boneco, que foram carinhosamente nomeados “Mariana” e “Pedro”.
Disse que “Mari” e “Pedro” vieram à escola para uma conversa sobre “Higiene Pessoal”. “Mas o que significa isso, crianças?” As respostas foram as mais variadas possíveis. Falaram que higiene pessoal tem a ver com a limpeza dos lençóis da cama, da mesa e de esponjas coloridas. Até que Felipe, 4 anos, trouxe a questão à tona: “Higiene pessoal é escovar os dentes e passar sabonete no corpo”. Todas as crianças concordaram e emendaram: “Também é tomar banho e pintar as unhas”.
“Mas crianças, o que faço no banheiro que tem a ver com minha higiene pessoal além do banho que vocês mencionaram?”. E as respostas vieram em forma de coro: “limpar o xixi e o cocô, Carol!”. Logo respondi: “Ahhh, entendi, muito bem!! E é por isso que a “Mari” e o “Pedro” estão aqui hoje”.
Os bonecos serviram como um meio pelo qual pude responder as dúvidas das crianças de forma lúdica. Consegui me aproximar mais delas, adentrando o universo infantil.
Após a roda de conversa e meus exemplos, foi a vez das crianças colocarem em prática o que aprenderam. A proposta foi pegar o papel higiênico da forma adequada e limpar o bumbum da Mari. Afinal, ela está passando pelo mesmo processo de aprendizado que eles e precisa de ajuda, e quem não precisa?
A reflexão que fica é que, como adultos, devemos agir como facilitadores na construção do protagonismo da criança no seu cuidado com o corpo. Uma relação baseada no diálogo, com um olhar e escuta sensíveis às suas necessidades, estimula a autonomia e autoestima.
*Caroline Ciaramicoli é professora da Garatuja Educação Infantil